terça-feira, 6 de setembro de 2011

Vespertina

Vem solidão

Latindo no meio da rua

Como cão, entra na minha barriga-sem-dono.

Fico eu ventríloquo, sem fantoche.

E as luzes de superfície

Correm por essa pele de lombadas

Enxergam na contramão

O essencial está no espinho

Invisível no clarão ( na luz do dia )

As palavras ajudam na dimensão

Como calçar o corpo magro

Vestir o vazio e apertar com cinta

O flagelo e o sentir são família

Embora eu ainda tenha sede de rua

A casa destelhou

Restam algumas paredes de limite

A confusão em cima da superfície,

A dimensão sem teto,

O mendigo tem afeto...

Em cima da ponte e não embaixo!

Na luz do sol e dos olhares famintos

Caminha eu e o outro

Só.

me nina

Ó menina, por quê me olhas com esta cara de mandruvá?
- será que percebes que meu coração é coqueiro?

Sem calçada

Sonhou sem doce
logrou a vida
abriu o esplendor
da rua sem calçada
mas em que margens descansa?
Qual Sol me acredita?
Se está no cú da formiga
a essência do espiral
de girar em selvas
o ser que habita.
moras com quem,
uma donzela suicida?
um perdigoto amanhecido?
ou seria apenas um nome
onde o porco esconde o toiço?

Um pouco de Nada

Ah... essa homeostase psíquica

Quanto me importa que os demônios cagaram no céu?

Haja vista fosse mais fácil cortar os mindinhos do pensamento,

Assim sombrariam à mim

apenas raízes de afeto

Essa Samambaia delirante.

Que importa a sedução que a luz em mim impinge?

Só me envergonha de escuro

para os outros tão límpidos...

Esses canibais do sentido,

Cartesianos viciados,

morram na direção da lâmpada!

Deixaram-me em panturrilhas

sem ter aonde andar-me

Como carpa no buraco

Lambo a pedra do fundo do lago

Viro cerca de nada

Pois um pouco de nada me cerca

Fico arbusto esperando pássaro.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Relógio na Boca do Gato

Estávamos almoçando em casa:

Eu, mãe, vó, quando, de repente, chega meu irmão com seu caderno de desenhos.
Ele gosta muito de desenhar.
Nos mostrou um desenho que me fez valer o dia.

Dei um nome a este desenho - "O Relógio na Boca do Gato."

Nós tínhamos uma gata persa que se chamava Manu.
Há 4 anos a dita cuja morreu de velhice em nossos colos.
O enterro foi aqui mesmo, presenciado e cavado por todos.
A princípio, quando vi o desenho, não percebi que as tijelinhas tinham um nome: "Manu". Ficara complexamente encantado com o relógio na boca do gato.
Mas quis perguntar ao meu irmão o que era aquele desenho.
Ele me disse "É a casa da Manu, olhe a tijelinha com o nome dela."
Fiquei mais encantado ainda, pois até então achava que era a casa de um ser humano. Então comecei a entender o porque do relógio ser um gato e estar dentro da boca do dono da casa.
Eu disse: isso é muito incrível, mas minha mãe e minha vó não entendiam. E me perguntaram o que há de tão incrível em ter um relógio na boca de um gato?
Respondi dizendo: Ele é perecível.
Então meu irmão disse "Talvez estivesse pensando na morte da Manu quando fiz este desenho." "Na verdade este desenho é uma homenagem a ela."
Haveria uma forma tão incrível de representar, através de um desenho, o enigma que é o "feito pra acabar", o "ir pra nunca mais", o "perecer", O "morrer" para uma criança de 6 ou de 27 anos?
Agora entendo a frase "Pensando na morte da bezerra".
Contemple 'seu' desenho...




sábado, 18 de dezembro de 2010

Quando um dá um boi para entrar e o outro uma boiada pra sair

Estava calmo e tranquilo, falava manso. Ela com faca nos dentes, dentro da trincheira.
Quando uma mulher quer brigar, seja lá qual for o motivo que esteja endossando o ato, seja lá qual for o sentimento que esteja emprestando certeza, a conversa tende ir para o brejo.
E então dois bovinos tentam se entender. Os mugidos nada tem a dizer, revelam apenas diferenças. E a lida da conversa é pelos bretes tendo como destino o abatedouro.
É muito interessante pensar que o boi pacífico vai consciente para o sacrifício. Enquanto a vaqueira, com as esporas da verdade, acredita ter rédeas.
Ouvi dizer que égua xucra quando levada até o riacho não bebe água. Por quê?
O desejo dela é empacar.
Também cansei de ouvir que boi morto não sente. Mas aquele que dá a martelada sim. É o mesmo que acorda com remorso e dor de cabeça no outro dia.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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